terça-feira, 16 de junho de 2009

A minha paixão pelas coisas velhas



"Não acho que as coisas ‘velhas’ ou os velhos sejam irrelevantes em nossas vidas de pessoas mais novas"
Ulisses Aesse
Antes de morrer, meu avô João Amaro levou até minha mãe um ferro velho, desses que funcionavam a brasa. Disse que sabia da
minha preferência pelas coisas ‘velhas’. Pediu a ela que me desse o ferro, guardado havia anos. Meu irmão, vendo a antiguidade, se
interessou por ela. Recebeu a negativa de minha mãe:
– O ferro antigo é para o Ulisses.
Minha mãe me incentivava em tudo. Certo dia, me viu com uma das orelhas furada e, ao invés de me censurar, preferiu me oferecer
alguns pares de brinco para uma seleção:
– Escolha um deles. São meus, mas servem para homem. Esse seu (o que estava na minha orelha) não é de material bom e pode
infeccionar.
Certa de que dificilmente me veria como um cidadão comum, desses que se contentam apenas com o tempo presente da vida,
minha mãe nunca achou ruim quando chegava em casa com alguma coisa velha.
Lembro-me quando comprei uma Vespa. Recebi seu aval. Rindo um sorriso desconfiado, disse em tom de brincadeira:
– Não tinha nada mais moderno?!!
Riu, olhou, foi para o azul claro da sala.
Não vejo os olhos com a modernidade dos que têm gula na alma e censuram o diferente na vida das pessoas. Prefiro acreditar que
tudo na vida tem o seu sentido, o seu significado. O ferro, o brinco, a Vespa, a paixão pelo diferente, pelo incomum.
Não acho que as coisas ‘velhas’ ou os velhos sejam irrelevantes em nossas vidas de pessoas mais novas. Não há razão para
censurar o sol quando descobrimos um planeta novo com o brilho de nossa curiosidade. Tudo tem sentido na vida e nossa vida tem
sentido em tudo que é passageiro. Mesmo que fique pensando na nossa eternidade.

2 comentários:

  1. O que seria do moderno se não fosse o velho... Nossa história é um pouco do que passou e um tanto do que ainda vem. Nossa memória só existe porque esquecemos de muitas coisas pra lembrarmos de algumas. Esse texto me fez lembrar das coisas velhas que eu insisto em não esquecer também. Abraço.

    www.coisasqueeuqueriadizer.blogspot.com

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